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Brasil e a oportunidade de inovar

Brasil e a oportunidade de inovar
Ricardo Moraes Filho
out. 13 - 6 min de leitura
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A inovação tornou-se um fator fundamental para o sucesso do crescimento dos países através da capacidade de exportar produtos e serviços de alta qualidade, com produtividade e em grande escala. E estas marcas são alcançadas através de organizações com modelos de negócios, dinâmicas competitivas e estruturas de mercados, que lideram e alcançam posições de vanguarda nas diversas indústrias em que atuam.  

O Brasil assistiu no século passado, os países do leste asiático como Coréia do Sul, Indonésia, Taiwan, Singapura e Malásia, usarem uma fórmula vencedora que trouxe um crescimento admirável e transformador para estas nações. O investimento maciço em educação, em programas profissionalizantes, universitários, conjugados com a atração de empresas transnacionais, produziram tração na demanda de mão de obra qualificada.

Este movimento enriqueceu toda cadeia local de fornecedores e proporcionou a absorção de novos conhecimentos técnicos por meio de programas de inovação com a transferência de tecnologia estrangeira.

Entre os desafios e reflexões trazidos ao nosso país pelo cenário pós covid-19, podemos perceber uma inédita conjugação de fatores econômicos, geopolíticos, e sociais que oferecem uma oportunidade ao Brasil de acelerar o seu nível de inovação. Descobrimos recentemente que é possível agir com respostas rápidas, e mudar a triste realidade imposta aos grupos mais vulneráveis de brasileiros durante a pandemia.  

A atuação rápida e conjunta da sociedade civil, empresas e governos, auxiliados por startups e o uso da tecnologia, fizeram a diferença nestes desafiadores meses de 2020. Como exemplo, a Caixa desenvolveu, em tempo recorde um app que obteve 212 milhões downloads e disponibilizou o auxílio emergencial para quase 96 milhões de pessoas - a grande parte delas desbancancarizadas.

Alguns fatores que favorecem o Brasil neste momento:

  • O real é a moeda que foi mais desvalorizada frente ao dólar norte-americano em 2020, cerca de 40%, favorecendo as exportações e incentivando o investimento estrangeiro;
  • A taxa Selic em 2% ao ano estimula investimento local em economia real, infraestrutura e consumo;
  • O programa de privatizações e concessões previsto para 2020-2022 deve atrair novas oportunidades de investimento em infraestrutura e concessões com a utilização de novas tecnologias e investimento em inovação;
  • O mercado de crédito brasileiro representa 47% do PIB, tendo ainda muito espaço para crescer. O Banco Central tem incentivado a abertura deste mercado para fintechs e outras instituições estrangeiras que queiram entrar no mercado de crédito brasileiro;
  • O Brasil tem as principais matérias primas necessárias para indústria, energia abundante e limpa, grandes reservas de petróleo e gás, água, e não tem sofrido desastres climáticos significativos;
  • A pandemia mostrou a urgente necessidade de desconcentração e o grande risco da dependência global da produção industrial na China. Tivemos como exemplo o cancelamento do lançamento do novo iPhone por falta de peças;
  • Estamos atravessando um período de extrema liquidez nos mercados globais.

Duas alternativas para o Brasil desenvolver a Inovação nesta janela de oportunidade:

  1. Investir e incentivar o investimento em “inovação criadora de mercado", criando produtos e soluções simples para sua população mal atendida. Lembremos que o nosso país é quinto mais populoso do mundo, com o mercado interno em franco crescimento e 234 milhões de smartphones. Temos o exemplo da solução já citado, do atendimento do auxílio emergencial. Este tipo de inovação traz soluções rápidas e fontes de crescimento, cria impacto socioambiental positivo; elas atraem, ainda, recursos, investimentos em infraestruturas necessárias e geram empregos para atender uma população maior de clientes, criando demanda para mão de obra, que busca educação para se qualificar e assim gera mais mercado... um círculo virtuoso. Estas soluções podem ser usadas em outros países da América do Sul, por exemplo. A China tem usado este modelo na África, criando soluções para populações de baixa renda para utilizar em outros mercados, mais maduros.
  2. Ser mais atuante nas cadeias globais de valor (CGVs), com políticas bem definidas incentivando estes players a investir em pesquisa e desenvolvimento (P&D), que são coordenadas pelas empresas líderes em seus segmentos, de grande porte, com contratos de longo prazo. Este movimento exige acima de tudo, boas negociações e fontes de investimento em bens de capital para cadeia de fornecedores locais, além de qualificação de mão de obra. Os fatores favoráveis que citamos estão alinhados para este movimento. O objetivo final é produzir efeito semelhante aos tigres asiáticos, que não foi possível anteriormente no Brasil devido à instabilidade econômica, moratória e reserva de mercado, que nos afetaram no século 20.

Mas há quem diga que não tivemos boas experiências em projetos similares onde não houveram incrementos significativos no investimento em P&D, como o o Projeto Inovar-Auto. Neste caso, entre 2013 a 2017, os investimentos passaram de 0,65% para 1,5% do faturamento médio das montadoras envolvidas.

Mas temos também cases de sucesso, como o de Santa Rita do Sapucaí, o “Vale da Eletrônica”, no interior do estado de Minas, onde 150 empresas faturam juntas R$ 3,2 bilhões e investem 9% do seu faturamento em P&D. Em 2018 foi regulamentada a Lei da Ciência, Inovação e Tecnologia e, no mesmo ano, o Brasil ficou em 9° lugar entre os países em investimentos em P&D, representando 2,3% do investimento global. Após a regulamentação da nova lei, a tendência é que centros de pesquisa universitários e empresas se aproximem muito mais.

Os mais pessimistas falam que a maior dificuldade é o Brasil não conseguir replicar ecossistemas de inovação como os das cidades de São Francisco, Berlin, Tel Aviv e Toronto. Mas são visíveis, os crescimentos das iniciativas das cidades de Recife, São Paulo, Belo Horizonte, Florianópolis, Porto Alegre e Curitiba, esta com seus dois unicórnios. É necessária, contudo, a efetiva cooperação entre governo, empresas, instituições acadêmicas e sociedade civil, para que não se desperdice esta grande oportunidade.

“A inovação é a chave para abrir sempre mais oportunidades para que as pessoas melhorem”, Clayton M. Christensen.


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