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As conexões que importam

As conexões que importam
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jun. 16 - 5 min de leitura
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Entre os temas de maior prioridade para uma saudável e necessária retomada da economia e que muito possivelmente irão impactar a tomada de decisão da inovação da alta gestão e dos conselhos empresariais, gostaria de destacar alguns que poderiam passar despercebidos num cenário tão complexo.

Nesse contexto, o tema das cidades inteligentes – smart cities – deve ganhar espaço e importância na agenda da alta gestão das empresas precisamente porque tem grande capacidade e agilidade de articular e fomentar iniciativas de transformação, bem mais do que a esfera pública poderá realizar isoladamente. O grande propósito de uma cidade ao se candidatar a ser uma smart city ou ao anunciar projetos sob essa ótica é se tornar um melhor lugar para seus cidadãos, o que significa amplamente combater a escassez e gerar abundância – de acessos, de qualidade de vida, de facilidades, de geração de riqueza.

Há muito espaço nessa abordagem para uma atuação mais propositiva das corporações privadas, de maneira a não contar apenas com uma movimentação caracteristicamente mais pesada do Poder Público, mas liderar projetos que podem começar coletivamente num bairro ou distrito antes de avançar pela economia geral da cidade.

Um segundo tema que talvez possa ganhar relevância junto aos conselhos e à gestão das empresas, mas que ainda parece causar certo desconforto, é uma maior e mais propositiva aproximação com a academia, numa agenda focada em produção de resultados para o coletivo, tanto financeiros quanto de geração de conhecimento. Parece causar desconforto porque a academia – essencialmente sua veia investigativa, de pesquisa – não tem em sua natureza a missão de inovar (no sentido de ser comercialmente viável), mas gerar conhecimento. Por outro lado, a empresa olha primordialmente para um resultado que é medido no lucro.

É evidente que há inúmeros casos bem sucedidos de parcerias de trabalho entre iniciativa privada e academia, com resultados brilhantes que agregam desenvolvimento do conhecimento e geração de riqueza que, lado a lado, traduzem-se em avanços econômicos. Mas não é, ainda, uma prática consolidada, sendo que vários segmentos inteiros, tanto de áreas da ciência quanto do mercado, ainda permanecem à margem desse oceano de possibilidades de aproximar ciência e mercado (e sociedade).

Nesse aspecto, um elemento precisa ser trazido para a discussão junto às organizações privadas, a verdadeira angústia diária no ambiente acadêmico: o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), que sofre com a maneira como a União vem tratando seu orçamento anual. Uma participação madura da gestão das altas empresas junto a parceiros acadêmicos poderá contribuir para um tratamento mais adequado a esse assunto, o que significará um grande apoio à ciência, à inovação e à economia.

Um terceiro ponto passa pelo fomento e cultivo de conexões que importam, com o objetivo de ativar o poder mobilizador das organizações atuando no coletivo (sociedade) para além dos objetivos empresariais. A cada novo ciclo – e eles estão se tornando cada vez mais breves, especialmente neste pós-pandemia – uma renovação se faz necessária, mirando furar a própria bolha. As empresas privadas devem buscar construir conexões, digamos, mais afetuosas com todos os que se relacionam com elas. Talvez haja espaço nos movimentos coletivos, possivelmente as pessoas estejam pedindo mais cuidado, quem sabe a transformação digital deva começar pela transformação humana. E seria lindo ver uma transformação humana, partindo da empresa com ajuda da tecnologia.

Certamente, o que se fala aqui não será de todo novidade em inúmeros contextos deste país – o que já é um avanço, dados os desafios que permanentemente nos acompanham. Mas podemos tangibilizar. Em 2018, em Porto Alegre (RS), iniciou-se uma parceria de três universidades – duas particulares e uma pública – denominada “Aliança para a Inovação”, incentivada pela Administração Pública (prefeitura), com o intuito de repensar a cidade.

Daí surgiu o Pacto Alegre, um esforço conjunto de quádrupla hélice – instituições de ensino, governo, iniciativa privada e sociedade civil – em favor da inovação para o desenvolvimento sustentável e da qualidade de vida na capital gaúcha, estimulando o empreendedorismo colaborativo. Orientado por seis macrodesafios – talentos, transformação urbana, ambiente de negócios, imagem da cidade, qualidade de vida, modernização da Administração Pública –, o Pacto Alegre trabalha em uma série de projetos que lidam com os três temas mencionados acima de maneira prática, na vida real. Inspirado por iniciativas vencedoras em outras localidades do mundo como Barcelona e Medelín, é um grande projeto, que vem chamando a atenção de organizações privadas que estão dedicando tempo e recursos humanos para se engajarem no desafio e amadurecer sua participação nessa problemática que, via de regra, seria de responsabilidade da esfera pública, mas que se bem sucedida possibilitará ainda outros avanços de âmbito coletivo e econômico.


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