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Inovação no Brasil e a síndrome do impostor

Inovação no Brasil e a síndrome do impostor
Maíra Oltra
out. 28 - 3 min de leitura
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Notamos que no Brasil há baixo investimento em tecnologia, inovação e P&D. Os dados atestam que, muito embora esses investimentos tenham aumentado nos últimos anos, ainda há uma baixa proporção no total do investimento de P&D em relação ao PIB - apenas 1,2% em comparação com países que fazem parte da União Europeia ou da OCDE, os quais investem, em média, 2% e acima de 2,5% do PIB, respectivamente.

Há regiões como o Vale do Silício, onde há uma abundância de recursos para investimento em inovação, ao passo que no Brasil e em países emergentes há uma maior escassez de recursos. É evidente que os números também variam de acordo com as regiões do país, mas um ponto interessante é que, por vezes, a falta de recursos é um gatilho para gerar inovação.

Outro ponto relevante refere-se ao fato de que as grandes empresas ou as companhias mais admiradas no Brasil, de acordo com diversos rankings, invariavelmente, são empresas com modelos de negócio mais tradicionais ou são bancos. Quando avaliamos esses mesmos rankings em países como os Estados Unidos, verificamos que, geralmente, estão no topo das listas empresas como Amazon, Apple, Google e outras companhias mais inovadoras.

Isso demonstra que o Brasil, quando comparado a países mais inovadores, ainda está na contramão das tendências mundiais. Acredito que esse ponto está relacionado a diversos fatores, como menor quantidade de recursos existentes no país, mercado de ações menos estabelecido e, por fim, o aspecto cultural. O brasileiro possui uma cultura mais hierárquica e ligada à ostentação, o que pode explicar o fato de instituições mais antigas ou tradicionais serem mais admiradas do que organizações menos tradicionais ou disruptivas.

A despeito de todos os pontos acima apontados, vale ressaltar que o Brasil apresenta muitas oportunidades de inovação em relação a países mais estabelecidos: ainda há setores com alta concentração de “market share”, pouca concorrência, margens muito altas e, por vezes, serviços de baixa qualidade e pouco “customer obsessed” [1].

Esse elemento é bastante relevante para o tema da inovação, já que em que países mais desenvolvidos, geralmente, a competição é muito mais acirrada, as margens são menores e a qualidade dos serviços ofertados é superior.  O “case Nubank” é um exemplo de como mercados com pouca competição estão mais sujeitos à disrupção [2].

Diante de todo o exposto, se por um lado há menos recursos financeiros, por outro, há oportunidades únicas no país [3] - e talvez o complexo de inferioridade seja apenas uma “síndrome de impostor”.


[1] É bastante comum vermos no Brasil empresas com altas margens que não proporcionam uma boa experiência aos clientes, diante da falta de concorrência.

[2] O lema usado pelo Nubank relacionado ao inconformismo com o sistema financeiro atesta que essa oportunidade surgiu em decorrência do contexto específico existente no país.

[3] Da mesma forma, setores como infraestrutura, telecomunicação e banda larga parecem ser outras oportunidades para inovação diante da grande concentração de mercado.


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