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O dilema não está só nas redes: vivemos a era das contradições

O dilema não está só nas redes: vivemos a era das contradições
Governança & Nova Economia
set. 29 - 5 min de leitura
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“Com a mesma rapidez com que a nova economia nos surpreende, podemos ver surgir novas Enron ou Lehman Brothers digitais”. Escrevi essa frase há mais de três anos. Para quem não se lembra, a queda da Enron no início dos anos 2000 foi um dos maiores escândalos contábeis da história. Já o centenário banco de investimentos Lehman Brothers cravou em 2008 a maior falência americana, na esteira da crise do subprime.

A frase foi parar no livro “Governança & Nova Economia”. Do livro, nasceu uma comunidade de prática que hoje conta com 20 mil pessoas. A Gonew.co une membros da alta gestão e de conselhos empresariais brasileiros com o propósito de construir empresas velozes e corretas. A seriedade do movimento fica demonstrada com o apoio já recebido de empresas como a PwC, a Fundação Dom Cabral, o escritório de advocacia Arns & Andreazza, a World Trade Center (Região Sul) e a Gazeta do Povo, para citar algumas.

Mas por que tantas pessoas e empresas relevantes têm se movimentado ao redor de um tema que, à primeira vista, parece tão pouco convidativo como a governança? Talvez porque a cada dia que passa fica mais evidente em nosso cotidiano que temos que lidar com os inúmeros dilemas de unir tecnologia e poder, inovação e ética, velocidade e controle.

E quando falo em dilemas, não me refiro somente ao das redes sociais ou a privacidade hackeada, temas dos algoritmos netflixianos. A inovação não é um conto de fadas. Os dilemas são das redes mas também são empresariais e envolvem a tomada de decisão na alta gestão. São novos paradoxos que demandam novas funções dos conselhos e da alta gestão.

O processo decisório deve prezar pela conformidade mas sem abrir mão da criatividade, apoiar as inovações disruptivas sem deixar de lado as incrementais, defender ritos sem perder a agilidade e prover recursos para inovar no longo prazo ao mesmo tempo em que precisa garantir o curto prazo (obrigado, Maximiliano Carlomagno, por essa provocação no último Master!). O meio empresarial, então, tem um dilema: buscar a perenidade em um cenário de encurtamento dos ciclos de vida empresariais.

Mas os dilemas também são políticos e de poder, o que também poderia render uma série em serviços de streaming. Apoiar Trump ou o TikTok e o WeChat? Tecnologia 5G com os Estados Unidos ou com a China? De que lado você fica na guerra fria tecnológica do século 21? Respondo: no meio. Seus dados são a matéria-prima.

Já no campo da ética e da vida, os dilemas só estão começando: das tecnologias de melhoramento humano à promessa de busca pela vida eterna de Elon Musk. A última do empresário foi um chip que, segundo ele, será capaz de permitir o controle de smartphones e computadores apenas com a mente. Por enquanto, apenas uma porquinha chamada Gertrude teve o tal artefato implantado no cérebro. Por enquanto.
Até mesmo em terras tupiniquins não estamos imunes a dilemas digitais, como é o caso da suspensão de contas em redes sociais pelo Supremo Tribunal Federal ou o projeto de lei das fake news. No campo regulatório, ainda temos os dilemas que envolvem novos modelos de negócios e já resultaram até em greve, caso dos entregadores — ciclistas e motociclistas — vinculados a aplicativos de delivery como o iFood. Até já nos esquecemos dos clássicos pode-não-pode dos patinetes e bicicletas compartilhadas, Uber vs prefeituras mundo afora, entre tantos outros.

Se há controle demais, a inovação desconfia. Não parece razoável sufocar os motores da inovação com regulações e compliance que pesados demais. Mas é melhor não tê-los? Qual é a medida certa do controle? E as pessoas e empresas realmente precisam se posicionar a todo o tempo sobre todos os conflitos do mundo? Se sim, qual é a ciência dessa hiperexposição, vez que o que é certo ou errado muda com o tempo, enquanto as memórias digitais permanecem à espera de cancelamentos tardios?

Não podemos esperar que tantos dilemas sejam resolvidos facilmente. As soluções não se darão, somente, por regulação ou tecnologia. O caminho exige uma sociedade preparada e capacitada para debater os temas emergentes e as contradições de conectar o mundo. E se esse não chega a ser um propósito para você, que ao menos busque refletir um pouco sobre esses dilemas. Pode ser decisivo nessa era de contradições.


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